terça-feira, 21 de dezembro de 2010

PD49

Na parede cinza apenas velhos retratos desbotados do passado. Pessoas que hoje já não existem mais, seja fisicamente ou imaterialmente falando. Nunca fui de ligar muito pro antes, já que nas minhas sinapses atuais o meu "eu" de antes sempre é inferior. A inocência infantil é algo que não é muito popular comigo, ela expressa alguém que eu fui mas que hoje não habita mais nesta casca. O presente é uma conquista muito sofrida para ser jogada fora por algo tão vazio como o que já se foi.

A fumaça sobe formando almas errantes. Desaparecem na escuridão. Além da lâmpada dependurada no teto não é mais meu reino, não me compete saber o destino daquelas aparições. Não é da minha conta. Não quero saber. Que se percam em seu mistério enquanto eu continuo aqui deitado em meu feixe de luz.

O velho vinil continua a girar em seu eixo. A caixa mofada emite sons roucos que movimentam o ar carbônico deste salão no meio de lugar nenhum. Parece muito distante. Não consigo ouvir mais nada. O pulsar, o sangue que corre. Talvez eu veja algumas igrejas da Bahia, talvez alguns sinos. Posso criar de tudo nesse espaço vazio que me pertence. Meus amores, meus terrores, todos em um só quadro surreal que se propaga no infinito. Nem mesmo uma estrela para me guiar, apenas uma estrada que surge a cada segundo a frente dos faróis.



A luz, a luz...